Escrito por Marina Sahyoun
O Etanol de segunda geração (E2G), conhecido também como etanol lignocelulósico, é produzido a partir de subprodutos de atividades econômicas, como indústria alimentícia e agricultura, por isso, é chamado de biocombustível de segunda geração. O processo de produção do E2G consiste em quatro principais etapas: (i) pré-tratamento do material orgânico; (ii) hidrólise enzimática; (iii) fermentação e (iv) destilação. No Brasil, um dos principais insumos utilizados são os resíduos resultantes do processo de produção do etanol de primeira geração (E1G), ênfase para a palha e o bagaço da cana-de-açúcar.
Biorrefinarias podem ser plantas dedicadas ou plantas de E2G integradas a plantas de E1G (“plantas integradas” ou plantas 1G2G). A BioFlex® 1 da GranBio foi a primeira planta dedicada produtora de etanol celulósico em escala comercial no Brasil – a biorrefinaria começou a operar em 2014 com uma capacidade instalada de 30 milhões de litros de etanol por ano e usa como insumo subprodutos da cana-de-açúcar.
Vantagens no uso de E2G
É evidente que o processo de produção do etanol de segunda geração compõe um elo da cadeia de economia circular ligada à produção do etanol de primeira geração ao agregar valor e finalidade aos resíduos antes não aproveitados. Além desse progresso rumo à otimização da cadeia produtiva do país, o E2G apresenta vantagens frente aos combustíveis fósseis e até mesmo diante do E1G:
– Por ser um subproduto, não compete na cadeia de produção com os principais derivados da cana, como açúcar, álcool, óleo fúsel e recursos energéticos (biomassa para queima ou biocombustível);
– Não requer plantação de área adicional e evita o descarte tradicional de resíduos pela queima, além disso, o insumo não tem mais emissões de CO2 associadas;
– Contribui para a segurança energética nacional ao apresentar uma alternativa de suprimento;
– É considerado um combustível limpo, cuja queima gera emissões de CO2 inferiores em pelo menos 80% em relação à gasolina comum, o que contribui para mitigar o efeito estufa na atmosfera.
Segundo a ANP, o E2G seria uma solução viável para reduzir o volume de gasolina importada pelo Brasil e uma alternativa para potencial aumento das exportações, dado que o consumo de biocombustíveis é valorizado por políticas públicas nos Estados Unidos e na Europa.
Solucionados os desafios quanto à logística, custo da tecnologia e CAPEX, o etanol de segunda geração pode ser um biocombustível competitivo e atrativo em termos de preço e disponibilidade. No mercado, o modelo de negócio de planta integrada, de novas biorrefinarias da Raízen junto aos seus parques de bioenergia, tem se mostrado um business rentável, seguro e replicável.
Mudanças regulatórias
No âmbito regulatório, diversas medidas foram e estão sendo adotadas, como o percentual obrigatório de biocombustível misturado na gasolina C e no óleo diesel B para fomentar e expandir o uso de produtos como o E2G. Algumas das principais iniciativas governamentais são o Programa Combustível do Futuro (Resolução CNPE nº 07, de 20 de abril de 2021) e o Renovabio (Lei 13.576/2017, de 26 de dezembro de 2017), que prevê, entre muitas medidas, a emissão de créditos de descarbonização (CBIOs) por produtores e importadores de biocombustíveis, devidamente certificados na ANP. Pode-se citar também as MPs nº 1.063/2021 e nº 1.069/2021 e a Lei 14.292/22, que visa a possibilidade de venda direta do etanol aos postos de combustíveis. De acordo com a ANP, 23 usinas de etanol estão em construção, já a EPE projeta que até 2031 serão 40 novas usinas de etanol instaladas.
De modo geral, o E2G contribui para o desenvolvimento energético e o processo de transição para uma economia de baixo carbono. O Brasil tem características e condições favoráveis para estar na vanguarda deste movimento.