Escrito por Daniel Niemeyer

A Usina Hidrelétrica de Itaipu é mundialmente reconhecida como uma verdadeira maravilha da engenharia moderna, representando uma colaboração notável entre dois países sul-americanos, Brasil e Paraguai. O problema é que, no século retrasado, os países travaram uma violenta guerra, que custou ao Paraguai a perda de metade do seu território e de sua população, e mesmo 100 anos depois, havia desconfiança entre os dois países. Localizada no rio Paraná, na fronteira entre as duas nações, a grandiosidade e a complexidade dessa estrutura destacam-se como um testemunho da engenhosidade humana e da capacidade de superar desafios técnicos e geográficos. Com o desvio do rio Paraná, milhares de hectares e dezenas de milhares de casas desapareceram em uma área enorme que foi inundada, o equivalente a 4 vezes a área da Baía de Guanabara.

Com uma oferta de mão de obra relativamente barata, houve um interesse internacional de investimentos no país. Com isso, veio o aumento populacional e, se a taxa de crescimento se mantivesse, em poucos anos o país sofreria uma grave crise de abastecimento energético. Portanto, o aumento da capacidade energética se tornou prioridade, e foi iniciado um estudo que apresentasse um projeto que fosse grande o suficiente para suprir a demanda energética não só da época, mas também dos próximos 50 anos. O Brasil não era uma potência em combustíveis fósseis, o que impossibilitava projetos termelétricos de grande porte, e a tecnologia nuclear era sonho distante para qualquer país emergente. A solução, portanto, viria da disponibilidade energética mais abundante no Brasil: a água.

Visão ambiciosa e cooperação internacional na década de 1970

Concebida na década de 1960 e construída ao longo da década de 1970, a construção de Itaipu foi uma visão ambiciosa que exigiu cooperação intensa entre os dois países. O projeto foi marcado por uma magnitude impressionante, desde o dimensionamento da barragem até a instalação das turbinas. A usina foi construída por mais de 40 mil trabalhadores, que enfrentaram um calor escaldante, cujo desafio inicial foi mover o curso do rio Paraná em cerca de 2km de extensão, 150 metros de largura e 90 metros de profundidade. A barragem de quase 8 km de extensão e 196 metros de altura só pode ser erguida no local após o rio e seu leito ter secado completamente.

Engenharia civil e desafios técnicos

A barragem de Itaipu é uma demonstração extraordinária de engenharia civil. Foi projetada para suportar a pressão massiva da água represada, enquanto os vertedouros foram estrategicamente implementados para liberar o excesso de água de maneira controlada. O volume de concreto utilizado foi tão alto que seria o suficiente para construir 210 estádios do Maracanã.

Porém, para manter a consistência ideal do concreto, foi necessário misturar gelo na sua produção, mantendo-o reforçado e sem criar rachaduras na barragem. Como a quantidade de concreto foi tão grande, o volume de gelo também não poderia ser diferente. Uma fábrica de gelo com capacidade de produzir 1700 toneladas diárias de gelo precisou se construída nas proximidades da obra. Como resultado, a obra da usina hidrelétrica de Itaipu foi a que mais utilizou gelo em todo o planeta.

Impacto sustentável e cooperação tecnológica

O intercâmbio tecnológico entre Brasil e Paraguai durante o desenvolvimento de Itaipu também é um aspecto notável desse empreendimento. Engenheiros dos dois países colaboraram de maneira extraordinária, compartilhando conhecimentos e habilidades para superar os desafios únicos apresentados pelo ambiente tropical e pelas características específicas do local escolhido.

A construção de Itaipu não apenas transformou o cenário energético da região, mas também representou uma iniciativa pioneira na busca por fontes de energia renovável. Sua contribuição para a matriz energética limpa é inegável, e a usina serve como um exemplo para o desenvolvimento sustentável em todo o mundo.

A Usina Hidrelétrica de Itaipu é inegavelmente uma maravilha da engenharia, simbolizando a capacidade humana de superar desafios e criar soluções inovadoras. Seu impacto vai além da produção de energia, estendendo-se à cooperação internacional, ao avanço tecnológico e à promoção de práticas sustentáveis. Itaipu permanece como um monumento imponente, não apenas em termos de tamanho e escala, mas também como um testemunho duradouro da excelência na engenharia moderna.