A hipótese de um cenário de déficit de energia causado pela escassez de chuvas e baixa nos reservatórios, mapeado até o fim do ano pelo ONS, motivou o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) a autorizar todos os recursos disponíveis de geração de energia.
Esse é o pior regime de chuvas da série histórica dos últimos 90 anos no período úmido. A sequência de setembro a abril foi a pior da história, desde 1931. O ONS mostrou no PMO que, nas condições atuais de vazões, mesmo que chova a média dos últimos anos, a ENA do Sudeste ficaria bem abaixo da média histórica. Ou seja, teria que chover bem acima da média para que a ENA voltasse para a média histórica.
A decisão define que ONS poderá usar toda a capacidade térmica disponível no país para garantir o abastecimento de energia, ainda que, para isso, despache um grande número de termelétricas, incluindo as mais caras, fora da ordem de mérito, ou seja, independente dos níveis de chuvas e preços.
Aumento no custo total de geração
Segundo Eduardo Faria, da Mercurio Trading, mesmo em um cenário projetado como mais pessimista, a simulação não mostra risco de falta de energia e o custo marginal de operação não atinge o custo do déficit, o que significaria a indicação de corte de carga. Porém, há grande probabilidade de aumento no custo total de geração por conta do aumento do despacho com térmicas, seja por mérito ou fora do mérito (por critério de Garantia Energética), o que acarretará aumento da tarifa para o consumidor final. “É fundamental que o operador do sistema não finalize o período seco já contando com um bom período úmido, pois, se novamente ocorrerem afluências não favoráveis no próximo período úmido, teremos maiores riscos de falta de suprimento.”
É um problema de decisão sob incerteza. Em um cenário de elevado uso das térmicas seguido de ótimo período úmido, há o ônus dos custos elevados. Já o cenário de não acionamento das térmicas seguido de período úmido desfavorável pode acarretar problemas mais sérios de suprimento e arrependimento ainda maior. Os modelos são usados para auxiliar o ONS nessa tomada de decisão, mas seus resultados devem ser sempre analisados de forma crítica.
O CMSE garante, ainda, acelerar a liberação de novas linhas de transmissão para garantir escoamento ou remanejamento de cargas entre regiões; garantir combustível para abastecimento das térmicas; postergar a manutenção de usinas e importar energia dos países como Uruguai e Argentina.
Mesmo com a baixa possibilidade de déficit de energia, hoje, não há um critério definido para a decretação de um racionamento. Outro recurso não descartado são as campanhas de racionalização do consumo com incentivos à economia de energia.