O Sistema Elétrico Brasileiro é hidrotérmico, com alta predominância da fonte hidráulica na sua matriz. Por causa dessa característica, o planejamento da operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) tem como objetivo otimizar a disponibilidade de recursos hídricos ao menor custo de operação, decidindo entre utilizar a água armazenada hoje ou futuramente. Esta decisão é conhecida como “O Dilema do Operador”, e leva em conta incertezas relacionadas à operação, principalmente as incertezas meteorológicas e hidrológicas. A decisão pode ser equivocada quando se opta por utilizar, no presente, a água armazenada em determinado reservatório, mas no futuro não há a ocorrência de chuvas. Por não haver reposição dessa água, há um déficit hídrico que deve ser coberto pelo acionamento termelétrico. Também não é considerada uma decisão acertada quando se opta por armazenar a água desse reservatório no presente, mas ocorrem chuvas volumosas no futuro, levando a vertimentos e, consequentemente, a um desperdício desse recurso energético.

Portanto, as decisões do ONS sobre a forma de utilização dos reservatórios do SIN se dá sob incerteza. Utilizar a água no presente reduz os custos imediatos, pois será necessário um menor acionamento de termelétricas para atendimento ao sistema. Entretanto, isso leva a maiores custos futuros esperados, pois essas térmicas terão mais chances de serem despachadas no futuro. Quando o oposto ocorre, poupamos água no presente para utilizarmos as térmicas, o custo no presente aumenta, à medida que o custo futuro é reduzido. Os modelos computacionais de apoio à decisão do setor elétrico buscam minimizar o custo como um todo, compreendido pela soma dos custos imediato e futuro de operação.

A tarefa de se encontrar o ponto de menor custo de operação para o sistema não é nada fácil. Dada a complexidade do sistema elétrico brasileiro, com restrições de intercâmbio entre as regiões do país, restrições hidráulicas de usinas de uma mesma bacia hidrológica e a intermitência da geração de fontes renováveis, a adequação dos modelos computacionais NEWAVE, DECOMP e DESSEM em função da evolução do setor é um desafio constante.

Esses modelos, que se complementam em termos de horizonte de análise e em nível de detalhamento da modelagem, são as ferramentas oficiais de apoio à decisão de operação do ONS, além de determinar, em base horária, o Custo Marginal de Operação (CMO) e o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), dados em R$/MWh.

Dessa forma, “O Dilema do Operador” tem uma influência direta sobre o preço spot da energia no Brasil, o que torna o aprimoramento dos modelos computacionais uma necessidade constante para que a simulação se aproxime da operação real do sistema elétrico.