A transição energética é um processo não linear de longa duração que abrange mudanças profundas e estruturais do uso de energia pela sociedade. Existiram diversas transições desde os primórdios da humanidade, como por exemplo a mudança do padrão caçador-coletor para sociedades sedentárias com domesticação da força animal e do fogo, a passagem do uso da lenha para o carvão, com o advento da máquina a vapor, e a descoberta do petróleo, acelerando a globalização. Contudo, a transição que vivenciamos hoje é movida pela problemática das mudanças climáticas e não exatamente pela oportunidade energética de outras forças motrizes ou descoberta de novos combustíveis que permitam grandes ganhos de escala e novos serviços energéticos (cujos impactos eram desconhecidos ou negligenciados no passado).
O foco da transição energética atualmente
Assim, a transição energética atual foca no desenvolvimento de fontes e vetores renováveis, com baixas ou quase nenhuma emissão de gases de efeito estufa, assim como no amadurecimento de outros mecanismos como mercados de carbono, financiamento climático, captura de carbono, mudanças de hábitos, entre outros. Existem diversos desafios para o setor energético, mesmo que, no Brasil, suas emissões associadas sejam menos representativas que de outras áreas.
Em relação à eletricidade, um dos grandes pilares de sustentabilidade é a geração por fontes renováveis, como solar e eólicas. Entretanto, sua variabilidade requer mecanismos de back-up e de serviços ancilares para a manutenção da segurança sistêmica, serviços historicamente prestados pelas nossas usinas hidrelétricas. Como não há expectativas de construção de novos grandes reservatórios, o aumento da inserção dessas fontes intermitentes, em linha com a transição, requer alternativas para a mitigação dos impactos da intermitência.
O Gás Natural na transição energética
É nesse contexto que as usinas termelétricas a gás natural ganham relevância, pois podem prover o sistema de flexibilidade e outros serviços de segurança com emissões de gases de efeito estufa muito inferiores aos níveis de emissões do carvão ou diesel. A redução do uso de combustíveis fósseis necessariamente passa pela substituição e adoção do gás natural como combustível de transição para sistemas renováveis e seguros. Além de eletricidade, o gás natural também é utilizado como gás de cozinha e calefação nos países frios.
A substituição do carvão e diesel pelo gás natural é relevante no combate às mudanças climáticas: a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), aponta que, desde 2010, a adoção do gás natural no lugar desses combustíveis fósseis mais poluentes já ajudou a limitar o crescimento das emissões, além de causarem significativo impacto local na redução dos níveis de poluição. Mesmo assim, o desenvolvimento de renováveis, nucleares e medidas de eficiência energética compõem conjuntamente o portfólio de soluções climáticas.
No longo prazo, por ainda ser um combustível fóssil, o gás natural deverá contar com mecanismos de captura de carbono ou compensação de suas emissões para poder estar alinhado com um contexto pós-transição energética e de resiliência climática. É importante também destinar esforços para a redução das emissões associadas a sua cadeia de suprimento e exploração. Dessa forma, também é possível desenvolver o mercado de hidrogênio azul, que abrange o uso de gás natural e captura de carbono.