Dois temas que possuem sinergia e representam desafios para o novo ciclo econômico pós-pandêmico são a gestão de resíduos urbanos e a geração de energia a partir do biogás.

Biogás: Entendendo o cenário

O aumento do consumo mundial no período pós-guerra trouxe o grande aumento do descarte de lixo por parte dos consumidores. O “lixo urbano”, antes composto por resíduos orgânicos, foi sendo substituído por embalagens plásticas, crescendo assustadoramente em volume.

Algumas sociedades entenderam o desafio da gestão de resíduos e iniciaram processos produtivos nos quais o “reciclar, reaproveitar, reusar” foram incorporados. Contribui também para a implementação deste comportamento o reconhecimento da ação humana como causadora do problema do Aquecimento Global.

Ainda assim, há uma enorme economia a ser desenvolvida na medida em que, ao se coletar, muito pode ser reciclado/reutilizado com bases econômicas. Isso reduz o custo logístico e diminui os volumes dos aterros. Após a disposição dos resíduos, há ainda muito a ser explorado economicamente. Um dos exemplos da exploração a curto prazo é a geração de energia elétrica com o biogás produzido. O aproveitamento energético do biogás de aterro entrou na seara dos temas prioritários para investimento.

O biogás é resultado de uma série de reações bioquímicas que degrada o material orgânico em ambientes sem oxigênio. Ele é um combustível renovável e descentralizado, perfeito para reduzir as emissões humanas brasileiras de gases de efeito estufa e mais resistente a eventuais mudanças nos padrões climáticos normais.

Em relação ao biogás de RSU (resíduos sólidos urbanos), seu aproveitamento energético pode se dar por meio de duas tecnologias:

  • Aterros sanitários – Todo o material orgânico das cidades é depositado em aterros por meio de células fechadas. A partir daí, por meio de um sistema sem oxigênio, ele é transformado em biogás. Por meio de uma rede de tubos coletores, ele é capturado, tratado e utilizado para gerar energia, sendo que a forma mais comum é em motores de combustão interna.
  • Biodigestores especializados – Essa é uma tecnologia ainda em desenvolvimento. Nela, o material orgânico é degradado em um ambiente controlado, gerando o biogás. Porém, diferentemente do aterro sanitário, aqui há uma triagem prévia do resíduo para que somente a parte orgânica seja tratada.

Vale lembrar que o biogás do RSU é uma fonte de energia renovável descentralizada, com utilização para diversos fins. Dentre eles, está a geração de eletricidade, já que ao tirar contaminantes pode ser queimado em motores para essa finalidade. Além disso, quando queimado em fornos ou caldeiras em seu estado mais bruto, é capaz de prover calor ou iluminação para casas, comércios ou indústrias.

Já quando refinado, o biogás vira biometano, que é semelhante ao gás natural. Dessa maneira, ele pode ser utilizado em processos industriais e até mesmo como combustível de automóveis.

O mundo está passando por importantes transformações na área de energia. As energias renováveis ditas modernas, das quais fazem parte biocombustíveis (incluindo biogás), energia eólica e energia solar, se fortalecem ano após ano e demonstram crescimento robusto e acelerado, mesmo em momentos de crise econômica.

Biogás: Desafios para a fonte

No Brasil, porém, ainda há um desafio. Isso porque ainda não há a universalização da coleta e disposição adequada dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU). O Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos (SECRETARIA NACIONAL DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 2016), mostrou que por mais que 98,6 % da população urbana seja atendida pelo serviço regular de coleta domiciliar, apenas 52 % dos resíduos são devidamente dispostos em aterros sanitários.

O país teve suas primeiras experiências com o uso do biogás na geração de energia  na década de 1970. Porém, mesmo sendo promissoras, as iniciativas foram abandonadas por conta de dificuldades de controle dos processos biológicos dos biodigestores instalados e à corrosão do equipamento por parte do gás sulfídrico.

No início de 2000, por conta do Protocolo de Quioto, o biogás voltou à tona devido à discussão em torno de projetos de redução de gases de efeito estufa em países em desenvolvimento. Porém, a tecnologia não avançou muito, já que os recursos para projetos desapareceram com o crash dos preços de créditos de carbono no mercado europeu EU-ETS, o maior do mundo, nos anos de 2011/2012.

Atualmente, com o aumento dos preços da energia elétrica, a preocupação crescente em explorar fontes alternativas e a profissionalização de empresas de gestão de resíduos volta-se a discutir mais uma vez sobre o biogás. No entanto, ainda é necessária uma infraestrutura adequada, capaz de realizar sua captura, limpeza, combustão e refino de forma eficaz.

Fonte: Inventário Energético dos Resíduos Sólidos Urbanos, disponível aqui.